quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A autoajuda realmente ajuda?



Muita gente torce o nariz para o nome autoajuda e tem urticária só de pensar no assunto. Estes pessoas tem suas próprias razões e não estou procurando convencê-las de que elas são inválidas. No meu ponto de vista de leigo bem informado, algumas dessas razões são:

1) Muitos pensam que autoajuda é picaretagem.

  • Muito do que é chamado de autoajuda é mesmo. É apenas autoajuda do autor. Enrola o leitor (ou participante de seminário) sem dizer nada de relevante e põe títulos mirabolantes, ou no caso de cursos, performances teatralizadas em excesso, que chamam atenção, mas não cumprem o que prometem.


Mas será que há uma autoajuda que seja sincera? Sim, alguns autores acreditam mesmo naquilo que falam e acham que o que escrevem vai ajudar as pessoas.

Talvez, você me dirá. Mas a boa fé dos autores não garante a validade dos princípios. E aí vai o seguinte argumento.

2) Muitos pensam que mesmo a autoajuda sincera não funciona realmente.

  • Muito bem. Muitas coisas escritas sobre o assunto são algo que funcionou para a própria pessoa que escreveu e ela acha que serve para todas e conta a sua história de como chegou lá. Talvez não funcione realmente para muita gente ou para mais ninguém além dela mesma. Mas há uma coisa que ajuda fazer o sucesso da autoajuda e também de sua má fama: a maioria das pessoas que compra livros de autoajuda não vai além da leitura do livro. Se quem lê um livro não põe em prática o que leu, certamente não vai funcionar. É o mesmo que ler um livro de matemática e esperar aprender alguma coisa sem se deter nos conceitos e fazer os exercícios propostos.

No caso dos cursos, as pessoas pulam de um curso para outro e para outro, ou escolhem um guru para louvar e na hora de por em prática, nada.
Estas pessoas estão realmente à espera de um milagre. E aqui vai o próximo argumento contrário:

3) Algumas pessoas afirmam que autoajuda cria ilusões.

  • Muita autoajuda faz realmente isso mesmo: cria ilusões. “Mentalize o que quer e isso irá cair do céu”. E você leu o livro ou fez o curso, seguiu as instruções e começou a mentalizar. Fez isso durante um bom tempo e a única coisa que conseguiu foi uma dor de cabeça (real ou metafórica) e vem a frustração. Tem toda a razão de reclamar. Livros e cursos desta natureza dão só dão o primeiro passo. Criam motivação (a clássica imagem cenoura na frente) e só ficam nisso.


O antídoto? Otimismo realista. Ou seja, após uma avaliação cuidadosa da realidade eu vejo o que deve ser feito, examino os meus recursos e faço alguma ação no sentido de ir ao encontro do que desejo.

Mas os argumentos contrários não param aí:

4) Críticas apontam que livros e cursos de autoajuda sempre dizem a mesma coisa.

  • A maioria diz mesmo e será difícil alguém abordar um assunto novo. Isso ocorre porque a maioria dos problemas humanos são sempre os mesmos. Sempre vão existir pessoas tímidas, pessoas com baixa autoestima, pessoas em busca do sucesso, pessoas que querem ganhar dinheiro, etc..

Então que muda? A forma de abordar e a qualidade das ações propostas. Eas críticas continuam:

5) Autoajuda mantém o status quo.

  • Sim e não. Por exemplo, a busca do sucesso. Muitos livros e cursos mostram o caminho do sucesso dentro da estrutura social que estamos inseridos. Por exemplo, dicas para ascensão numa carreira empresarial vão levar em conta a estrutura da maioria das empresas e ensinar um conjunto de regras dentro deste universo. Por exemplo, um livro sobre como arranjar emprego dirá: “a maioria dos entrevistadores prefere candidatos sem barba e aconselhamos a ir de rosto liso”ou “a maioria dos entrevistadores prefere mulheres que se vestem de maneira clássica”. 
Quer dizer que para me empregar teria que cortar minha vasta barba? Ou abandonar minha calça jeans? Não estarei dando vazão a preconceitos? Vestir um tailleur ou cortar a barba só para um entrevista não é hipocrisia? Aqui tudo vai depender do que é mais importante: seu estilo ou o emprego. E estas são as regras do jogo (status quo, ou a “Matrix da Classe Média”). Segui-las ou não é com você. Mas o livro ou curso pode mostrar quais são.

Do mesmo jeito algum curso ou livro sobre carreira política. Ela estará centrada no sistema político vigente, onde a imagem do candidato e sua postura frente ao público é muito importante.

Mas há o que pode ser considerado autoajuda para o outro lado. Por exemplo, um manual com técnicas de negociação para sindicalistas ou mais radical ainda, um livro que põe em quadrinhos o Capital de Karl Marx, para ser melhor compreendido pelos trabalhadores ou pelas novas gerações.

E ainda quem está em busca de, por exemplo, superar a timidez, pode estar fazendo isto porque quer fazer um discurso arrasador num palanque de um movimento político.

E por fim, a última crítica que eu detetei:

6) A autoajuda pode afastar um pessoa de uma verdadeira ajuda profissional

  • Na minha opinião, quando a pessoa esta presa num problema e não consegue resolvê-lo ela precisa de uma ajuda de fora para dentro que, de alguma forma, a faça ver de um outro ângulo a questão. Esta ajuda pode vir de um psicologo, de um psicanalista, de um psiquiatra, de um amigo, de um sacerdote ou de um livro ou curso de autoajuda. É claro que o melhor é procurar um bom profissional e alguns planos e seguros de saúde cobrem este tipo assistência.

Tem alguns motivos pelos quais, na minha opinião, algumas pessoas procuram um curso ou livro de autoajuda em vez de um profissional:

a) Preconceito

  • Quem procura psicólogos, terapeutas ou psiquiatras é louco”, por exemplo. Talvez a melhor autoajuda que estas pessoas precisam é um livro sobre “como eliminar preconceitos contra profissionais de saúde mental”.

b) Medo de se expor

  • Um profissional de saúde mental é visto como uma pessoa invasiva, com o poder de penetrar na sua vida. Num curso ou livro pode-se tratar do problema sem que haja interação com alguém com quem tenho de dividir meus segredos pessoais.

c) Falta de recursos

  • A pessoa talvez não possa pagar um profissional e um curso ou livro esteja ao alcance do seu bolso. Ou talvez viva numa região onde existam poucos (ou nenhum) psicólogos, terapeutas, psicanalistas ou psiquiatras.


d) Descrença

  • A pessoa não acredita que o processo terapêutico, seja ele qual for, tenha resultado no seu caso e decide resolver as coisas “do seu modo”. É o mesmo que uma pessoa que não acredite em remédios alopáticos procurar remédios caseiros.

e) O terapeuta indicou.

  • Alguns livros de autoajuda tem de maneira bem estruturada alguma forma de tratamento que pode ser vista pelo profissional como complementar. Normalmente uma sessão de terapia dura de meia hora a uma hora e meia, uma ou duas vezes por semana e este tempo pode ser insuficiente para maturar algum conceito. O livro serve para ser lido em paralelo ao tratamento.

f) O problema é bem específico
  • Por exemplo, timidez. Sou tímido e gostaria de melhorar isso. A timidez não me paralisa, mas às vezes sinto-me desconfortável. Eu não tenho restrições contra as terapias, mas acho que não é caso para tanto.

Vale aqui a advertência: “se persistirem os sintomas, procure ajuda de um especialista”.

Conclusão

Apesar de haver uma grande quantidade de cursos e livros de autoajuda é preciso bastante cuidado para escolher um, separando o trigo do joio (minha experiência pessoal indica que tem mais joio do que trigo).