Sonhar
no sentido de desejar alguma coisa que ainda não está ao nosso
alcance é comum para a maioria de nós. Mas nem todos nós tem a
mesma atitude diante dos sonhos. A seguir, conto três histórias
sobre sonhadores, baseados em mim mesmo (só para adiantar e ser
honesto, não ainda não me identifico com o melhor deles, embora
lute para isso) e em pessoas que conheço.
*Qualquer
semelhança com os três porquinhos não é mera coincidência.
O
Primeiro Sonhador
Não
sei quando comecei a sonhar. Não o sonho noturno, nem o simples
devaneio, o “sonhar acordado”, embora seja bastante similar a
isso. Falo do sonhar com o futuro, sempre melhor e mais interessante
que o presente.
Isso
até que é bom, pois “quem não sonha não tem futuro”, como eu
ouvi e li muitas vezes de pessoas bem intencionadas e de livros de
autoajuda. Mas eu acrescentaria “quem só sonha também não
tem”. Sonhar é bom. Por que sonhar com uma simples viagem ao
litoral, se posso sonhar com um cruzeiro no Caribe? Tem razão quem
diz “sonhar grande é melhor que sonhar pequeno” e “desejar as
estrelas o fará subir as montanhas mais altas”. Isso é verdade.
Mas eu não estava disposto a subir as montanhas mais altas. Em certo
momento eu desejava apenas as estrelas depois passei a desejar o
desejo. Sonhar bastava, mesmo que eu não tivesse feito meu bate e
volta para o litoral, dizia a mim mesmo: “E daí? Eu
posso sonhar que um dia eu vou ao Caribe”.
Um
dia apareceu um gênio e me disse: “vou lhe dar tudo o que deseja”.
Esse gênio se chamava Cartão de Crédito. A possibilidade de fazer
o que eu desejava imediatamente me fez muitas vezes esfregar a tarja
magnética que o liberava. Mas em vez de eu obter a fartura, veio o
Monstro
da Fatura. Mas ele não era tão mau assim, pois ele me
disse:
– Você
só precisa pagar o mínimo.
Medi
o tamanho da parcela e vi que ela cabia no meu bolso.
Tudo
bem, se eu não continuasse a esfregar a poderosa tarja magnética
que liberava o gênio. Descobri que ele era insaciável. Ele tinha
aliados: o Desejo de Consumo, alimentado pela Ofertas Tentadoras, o
É Só um Pouquinho por Mês e o famigerado e mentiroso Dez Vezes sem
Juros.
Um
dia o Gênio não quis me atender, respondendo em voz grave:
Mas
e agora? Eu queria apenas pagar a compra do supermercado! Mas aí
apareceu uma raposa chamada “Crédito Bancário”, dizendo:
– Eu
tenho a solução. Um pequeno empréstimo vai lhe salvar.
Pronto,
pensei. Posso voltar a sonhar com o Caribe. O sonho durou até eu ter
que pagar, além da fatura do cartão, a primeira prestação (até a
rima ficou pobre!).
Aí
começou um circulo vicioso. Um empréstimo para pagar o outro, outro
para pagar o um. Num ciclo em espiral que lembrava o crescimento
da divida externa do Brasil.
E
aqui estou eu, no meio de um pesadelo, em busca de um outro gênio
mágico, capaz de me fazer voltar a sonhar. Me contaram que tem um
tal de Agiota.
O
Segundo Sonhador
Também
gosto de sonhar. Como o colega acabou de relatar, com o “futuro
promissor”. E estou a espera dele. Há muitos anos. E vejo, agora,
que eu deixei o sonho fugir, acreditando que ele viria até mim se eu
mentalizasse com energia suficiente. Era o que disseram para mim uma
centenas de gurus, dizendo que havia garantias que a tal da Lei da
Atração funcionava. Era um segredo guardado pela Classe
Alta
e que agora estava disponível para mim, graças a esforços
de centenas de pesquisadores.
Confesso
que querer obter as coisas apenas com desejo é uma ideia atraente
(talvez aí resida a tal da lei da atração).
Isso garante o sucesso de Aladim há séculos (se bem que, neste
conto, a lição a ser aprendida é que desejo só não basta).
Pois
é, depois de tantos seguindo a cenoura da Lei da Atração eu
percebi que estava tão iludido quanto uma criança esperando por
Papai Noel.
E
descobri que o verdadeiro segredo da Classe
Alta
é realmente que, se você quer estar lá, você tem saber como
chegar até lá, que planejar como estar lá, trabalhar para isso e
estar disposto a pagar o preço. E descobrir que Papai Noel era
apenas seu pai fantasiado e pagando seu presente com o décimo
terceiro salário.
O
Terceiro
Sonhador
Eu
gosto de sonhar. Desde criança eu tenho a imaginação fértil. Eu
tinha
as melhores
ideias para as brincadeiras, eu fazia as melhores
redações na escola, eu contava as histórias
mais assustadoras quando eu e meus irmãos apagávamos a luz e
tentávamos assustar uns aos outros com histórias de fantasmas.
Um
dia decidi: Vou por esta imaginação pra trabalhar para mim. A
criatividade
que eu tinha devia me ser
útil de alguma forma. Talvez eu me tornasse escritor ou quem sabe
fosse trabalhar no
cinema. Mas criatividade
não é só útil nas artes. Podia ser um arquiteto, ser um
engenheiro e desenvolver um bom produto, ser um homem de negócios
com ideias inovadoras.
Percebi
que podia escolher um alvo, esticar o arco e atirar. Eu o atingiria
se o mantivesse focado. E o céu seria o limite se estivesse disposto
a trabalhar para isso.
O
que você achou destas histórias? Conhece alguém assim? Se
identificou com algum?
Todos
nós somos uma mistura dos três. Recentemente, num curso que fiz
(Produtividade
Ninja), aprendi um conceito importante: Otimismo
Realista.
Esta foi a lição que o Segundo
Sonhador aprendeu e que o Terceiro
tinha como princípio. Otimismo Realista é ter um objetivo concreto
e viável e buscar atingi-lo, reunindo recursos para isso e
evitando ao máximo a negatividade.
Tomemos
o exemplo do sonho de ir ao Caribe do Primeiro Sonhador. Será que se
ele não reequacionasse suas despesas ele não poderia ter uma viagem
melhor do que um bate volta no Litoral? Talvez
não desse para ele ir ao Caribe, mas se ele em vez de descer para o
litoral todos os finais de semana, poderia economizar durante um
tempo e fazer uma viagem mais longa para um lugar melhor.
Então,
escolha seu objetivo, seja otimista (ou seja, acredite na
possibilidade) e seja realista (trace seu planos e comece a
trabalhar).
Este
post contém palavras que apontam para links afilados: